Data: 21/10/2020
Objetivo
Cidades e comunidades sustentáveis
Entender o processo de aprendizagem da língua portuguesa por imigrantes haitianos no Brasil e pensar em caminhos que auxiliem estas pessoas através da interdisciplinaridade entre as áreas de Letras e Design.
A língua como principal instrumento de contato social utilizado pela humanidade, deve ser colocada em destaque como grande auxiliador nos processos de solução de problemas sociais em diversas áreas. De mesmo modo, o processo de aquisição da língua é também de grande importância, pois este, se mal executado pode gerar problemas que futuramente possam atrapalhar a vida do indivíduo de muitas maneiras, mas principalmente em forma de privações de participação social.
O Design como área de entendimento e resolução de problemas, se vê como grande ferramenta facilitadora dos processos de solução de problemas tanto estéticos como sociais. Utilizando como base metodologias de design é possível entender processos complexos e diferenciados sem interferência de pré-suposições e estereótipos (como em problemas sociais/linguísticos), baseando-se unicamente em informações factuais e relevantes, e entender como as mesmas interferem na complexa trama dos problemas existentes.
Os imigrantes, como exploradores de uma sociedade muitas vezes diferente em muitos aspectos do local de origem, tem como principal tarefa a inserção deles mesmos nesta sociedade. Um destes aspectos de diferença pode ser a língua, e tendo em vista a importância já citada acima da linguagem na participação social do indivíduo é de grande valor que o mesmo se a posse dessa linguagem de forma mais eficaz possível.
Os imigrantes haitianos, que serão evidenciados nesse artigo, experienciam diariamente esta adaptação linguística, muitas vezes se privando de muitas atividades sociais o que ocasiona a criação de bolhas sociais onde se evita o contato com brasileiros e se busca por comunidades haitianas, por simples conveniência de não necessitar tanto da aprendizagem do português. Porém esta ação pode resultar em dificuldade do indivíduo de se identificar e de atuar como cidadão gerando diversos problemas sociais que poderiam ter sido evitados.
Grande parte dos imigrantes haitianos tem certa dificuldade em aprender o português brasileiro seja por diferenças culturais ou por alguns problemas que seus idiomas maternos que já são de costume podem criar como falsos cognatos e outros. Por a língua ser incrivelmente necessária no dia a dia de todos, a dificuldade ou falta do idioma pode ocasionar problemas no contato do indivíduo com o mundo a sua volta, como impossibilidade de realizar certas atividades, de ingresso no mercado de trabalho e até de recebimento de benefícios públicos que a pessoa tem direito. Utilizando-se de teorias de aquisição da linguagem é possível entender melhor como o processo de aprendizagem funciona, colocando em destaque pontos em que estas dificuldade sejam criadas e como evitá-las.
A maior parte dos Haitianos migraram para o Brasil depois do terremoto que devastou o país no ano de 2010. Sabe-se de pessoas que migraram foi por volta de 80 mil. O principal motivo para mudança de país por meio dessas pessoas se deve a procura de emprego, segundo Marília Pimentel “Nosso país se preparava para sediar a Copa do Mundo e havia muitas obras, sendo que eles são fanáticos pelo futebol brasileiro – um ano antes do terremoto, a seleção jogou no Haiti. A presença de tropas brasileiras naquele país, transmitindo informações sobre o Brasil, também influenciava a migração. Com o endurecimento das fronteiras nos destinos preferenciais, os haitianos passaram então a vir para cá, alguns de passagem para a Guiana Francesa.”
Talvez uma das melhores abordagens de design no processo de aquisição de linguagem destes imigrantes, seja o Design Thinking, que coloca o stakeholder no centro do desenvolvimento de projeto, utilizando os conhecimentos empíricos juntamente com a parte técnica do Design para identificar e propor soluções para os problemas identificados. Citando Gabrin e Amaral em seu artigo Design Thinking: A Colaboração como Mola Propulsora da Inovação na Educação:
Assim, atividades colaborativas propulsionam a criatividade e o poder de criação fazendo com que em grupos de trabalho possam emergir ideias que causem impacto na forma de viver humana. Segundo Roger (1970, p. 139), "a criatividade é um conjunto de traços primários, tais como fluência e flexibilidade de pensamentos, originalidade, sensibilidade a problemas, redefinição e elaboração; além de traços de atitudes, de temperamento e de motivação”. (Gabrin e Amaral)
Esse envolvimento com os indivíduos no processo de aprendizagem, gera ainda mais o desenvolvimento criativo, interação social, que como explicado no Behaviorismo, é parte fundamental no desenvolvimento, aquisição e aprimoramento de linguagem. Essa interdisciplinaridade proposta pelo Design Thinking resulta num processo, fluido e inconsciente, quase que metodológico, mas que diferente de uma metodologia, não é quantitativo, mesmo assim sendo extremamente eficiente.
Sabe-se que no processo de aquisição de linguagem, na visão do Behaviorismo, o indivíduo é influenciado a agir principalmente de acordo com os estímulos gerados pelo meio em que vive. Nossa pesquisa tem o objetivo de entender como o meio no qual os imigrantes haitianos viviam em sua pátria de origem os levava a adquirir suas respectivas línguas e também compreender como que a mudança para um país que eles não têm contato pode ensinar essa nova língua através do convívio social. Skinner diz que
"as práticas de reforço de uma dada cultura compõem o que é chamado de ‘linguagem’. As práticas são responsáveis pela maior parte das realizações extraordinárias da espécie humana. Outras espécies adquirem comportamentos uns dos outros através de imitação e modelamento (eles mostram ao outro o que fazer), mas não conseguem dizer uns aos outros o que fazer. Nós adquirimos a maior parte de nosso comportamento com esse tipo de ajuda. Seguimos conselhos, damos atenção a advertências, observamos regras e obedecemos a leis… A maior parte do nosso comportamento é complexa demais para ter ocorrido pela primeira vez sem tal ajuda verbal. Ao seguirmos conselhos e regras, adquirimos um repertório muito mais extenso do que seria possível através do contato solitário com o ambiente" (SKINNER)10
Entender como funciona o processo de aquisição no país de origem, pode ser um ponto de partida para o entendimento de como essas pessoas irão adquirir a linguagem em um novo país, entender as facilidades e os ruídos que poderiam aparecer durante esse desenvolvimento linguístico e podendo até propor soluções que possam ser trabalhadas através do processo pós migratório. A importância de instruir essas pessoas à desenvolverem melhor o português esta ligado direta mente ao convivio social que irão ter, a busca por empregos que não explore de forma ilegal o trabalho. Segundo o IBGE em 2016 o número de haitianos com visto permanente no Brasil alcançou o número de 80.000 pessoas, comparando com o dado dos anos 2010, no que somava 36 pessoas.
O Jornal “Folhamax” publicou um artigo no ano de 2015 para expressar a jornada dos imigrantes por emprego na região do Mato Grosso “[...] “Estou buscando meio de trabalhar como autônomo, vender pão, vender coisas. Tenho que pagar o aluguel e dar de comer a minha família. Essa minha situação muitos haitianos estão vivendo, ter que depender de amigos para não passar fome”, diz.
Clesius lamenta ainda fatores que prejudicam ainda mais os haitianos, um deles é não falar português. [...]” esse é um dos fatores que apenas pioram a relação dos imigrantes Haitianos no Brasil, outro fator também é a falta de acometimento do estado para com eles, a falta de segurança e o enfrentamento da população nas cidades que recebem os imigrantes.
Equipe: Carolina Romão | João Manoel M. dos Santos | Matheus Ricci | Thayná Schreiter Furtado